domingo, 20 de março de 2016

É ridículo esperar das pessoas aquilo que existe em você... consideração, amor, respeito, coragem, lealdade... as vezes nos entregamos completamente em relações que não são capazes de ser sustentadas pelo simples fato de que não há sentimento suficiente para tal. As relações são vazias e quase sempre pagamos um preço alto por transbordamos de sentimentos... Afinal de contas de quem é o erro ? Da pessoa que não age como acreditamos ser o certo, ou de nós que esperamos até o fim que a pessoa caia em lucidez e nos trate como acreditamos que merecemos ? É revoltante admitir que o erro é nosso, o erro é completamente Meu, ficar a espera de algo que faça sentindo e que entenda que você só deseja o mínimo de atenção... Descobrir que você sabe de tudo, todos os sinais de quando o outro precisa de vc em algo, mas que o outro não tem o mesmo sentimento ou a mesma atenção, carinho, compreensão... Não ter um amigo ... Ficar com aquele grito preso na garganta e os olhos cheios de lágrimas de raiva e dor... As coisas não são tão simples. E eu já não sei escrever.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Martinho e a melancolia.

Martinho estava sentando em sua cama olhando as paredes de seu quarto, não conseguia dormir, vi-as descascar dia após dia, mas nada fazia para isso mudar, olhava com atenção a rachadura que ia de sua janela até a prateleira cheia de livros velhos, que nunca tinha lido apenas os possuía na esperança de um dia começar a ler, a xícara de chá quente fumegava em suas mãos e o cheiro doce do chá de hibisco invadia suas narinas entupidas pelo catarro decorrente da gripe que pegara, sua mãe havia lhe dito que o sereno faria mal e ele nem ligava, a febre o fazia suar e ter calafrios, Martinho não compreendia tal paradoxo. Ainda sentado em sua cama o jovem observava a poeira que cobria os seus livros e deseja volta e meia ser apenas um grão de poeira que é soprado de lá pra cá, pelo vento, sem compromissos com nada e nem ninguém e sem se perguntar se estaria a incomodar a senhora da casa, a poeira agasalhava seus livros bem como o cobertor seu corpo, o suor continuava e o chá já não fumegava mais, resolveu bebê-lo, sentiu o sabor azedo em sua boca e arrepiou-se como quem se arrepia a chupar um limão. Martinho olhou pra sua mesa de estudos e lembrou-se de tudo que ainda precisava ler e aprender e só de pensar já não queria mais, já estava cansado, só queria ser um grão de poeira, tudo isso passou por sua cabeça em uma fração de segundos que duraram anos, o que Martinho queria de verdade é como eternizar.  Bebeu metade do seu chá pôs a xícara no chão, ao lado da cama e deitou-se e pôs a observar a lâmpada queimada de seu quarto, ele começou a perceber o quanto ele e aquela lâmpada tinham em comum, era incrível como um objeto inanimado trazia consigo tanto de uma pessoa, Martinho se viu naquela lâmpada como uma mulher que vê seu reflexo no espelho, O jovem permanecia apagado, sempre apagado, mas sabia que em si assim como na lâmpada, já havia reinado a luz, um dia talvez, quem sabe, Martinho troque a lâmpada, mas ele sabia que não podia trocar-se. Adormeceu e sonhou, sonhou ser um grão de poeira, sem obrigações, sem preocupações, sem sentimentos e nenhuma daquelas frívolas complicações humanas, talvez um dia assim o fizesse bem.

O dia passou sem a observação de Martinho que dormia de forma pesada, nem as batidas da sua mão na porta o acordaram nada o acordaria, já não estava mais ali. A noite iniciou-se doce e calma assim como todas as noites, e bem no iniciou da madrugada o jovem despertou ironicamente cansado de ter dormido tanto, espreguiçou-se coçou as axilas e cheirou os dedos, cheiro horrível, suara durante o sono suara tanto que acabara molhando a roupa que vestia e os lençóis, levantou-se da cama silenciosamente e começou a perceber o quanto escura estava seu quarto, abriu a porta do quarto silenciosamente, impedindo-a de ranger, olhou para o céu e deparou-se com uma grande lua que parecia lhe observar, pegou a toalha no quintal, foi até o banheiro, despiu-se e olhou para seu corpo, parecia mais magro, toucou-se passou um bom tempo diante do espelho discutindo mentalmente com seu reflexo coisas malucas de um universo infantil, tocou o rosto, que parecia ter envelhecido muito desde a última vez que se olhou, aproximou-se do espelho e beijo-o como se beijasse a si mesmo, um beijo longo e insano na superfície fria que repetia seus atos e retribuía-lhe o beijo com a mesma intensidade e carinho apesar da frieza sentida pelos lábios, Martinho cessou o beijo  limpou a saliva com as mãos e voltou a se olhar, e voltou a perceber-se patético após o ato, era como masturbar-se contemplando as mulheres das revistas masculinas sabendo que nunca as teria, ele nunca abraçar-se-ia por mais que desejasse, tocou o rosto do reflexo como quem acarinha a namorada e pensou consigo mesmo pra onde iria quando tudo aquilo acabasse, onde acabaria quando a juventude cessasse e as dores começassem a devorar-lhe os ossos e a catarata comer-lhe os olhos, quando esse loucura iria acabar aonde tudo isso ia dar, não entendia , simplesmente não se compreendia, a partir desse momento sua mente passou a trocar de pensamentos com a velocidade com que se rouba, ágil e furtivamente, uma velocidade que nem mesmo o próprio Martinho tinha condição de acompanhar, aquilo era confuso, mas afinal de contas o que não era confuso para ele. Sentiu uma vontade de masturbar-se como se com a ejaculação pudesse botar pra fora os pensamentos  junto com o sêmen, entrou debaixo do chuveiro, ligou a torneira e deixou a água cair em seu corpo. A água gelada escorreu por suas costas e fez ele contorcer-se, depois que foi se acostumando aquela temperatura começou a relaxar seu corpo e permitir que o líquido tomasse conta de seu corpo e invadisse as rugas de seu corpo encharcando também seus pelos abundantes, pegou o sabonete, esfregou em suas axilas, e partes intimas, depois em seu rosto, fez tudo automaticamente, sem pensar em nada, limpou o suor do corpo e a água fria fez com que os pensamentos sumissem de sua cabeça por um tempo, após o banho, enxugou-se foi para o quarto vestiu um a das velhas cuecas folgadas deitou-se na cama e acariciou a própria barriga, sentindo os pêlos em volta de seu umbigo fundo, e relaxando sobre os lençóis ainda aquecidos, a madrugada parecia não passar, a lua ainda brilhava no céu e parecia não querer ceder espaço para o sol, a lua parecia não querer morrer, não queria nascer e durar uma noite apenas, é muito pouco, chega a ser patético, Martinho levantou-se rapidamente e olhou a lua mais uma vez antes de voltar a deitar, ele parecia ter sentido o que a lua sentia, é patético nascer e viver uma só vida, chega a ser patético viver. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Triste e doce realidade


Permita-me então mergulhar
No negro mar da perdição
Permita-me fumar todo o ópio
Para acalmar meu ânimos
Para que eu morra lentamente, sem perceber
Deixa que eu beba todo o álcool
Para que no dia seguinte
Eu não lembre do dia anterior, hoje e sempre
Pois estou cansado desta vida dantesca
Dessas lembranças repentinas
Desse amor dilacerado
De todo ódio guardado
Do qual não tenho como me livrar

Encho meus pulmões de realidade
Dói quando inspiro
Enfureço-me diante de toda verdade
Faço da fúria meu retiro
E viajo léguas a frente
Para poder livrar-me do agora
E percebo que essa
Talvez seja a melhor hora
Para eu poder chorar
sinto meu coração esvaziar
A cada gota que derramo
E saudade vai se acalmando
A fúria ,amiga, me leva pro canto
E põem-se a me ninar.

domingo, 2 de março de 2014

Soneto do Amor Total


Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude

Antonio Carlos Jobim / Vinícius de Moraes

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ouça-me

Imagem: Fabius Lorenzi

I

Um recado para vós
Que vos fazes de ovelha ao alvorecer
E segue os cuidados do pastor
E que durante a noite
Transforma-se nada dama escarlate
Deitando-se na cama de Satanás
Pondo-se a lamber o anus caprino
Para ganhar de um mestre
O que o outro não pode dar


II

Largue meu amigo
Da mão de um de vossos mestres
Para poder assim
Devotar-se ao outro com fé
Venda seu corpo ou sua alma
Decida-se
Ou largue a mão dos dois 
E fique consigo mesmo
Sem constrangimentos 
Siga suas próprias regras 
Segure suas rédeas 
Enfrente o caminho 
Que tens a percorrer

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Roseate Cockatoo

Roseate Cockatoo


Subverto a imagem do espelho
Para alegrar-te senhor
Subverto a personalidade que conheço
Pra agradar-te enfim, 
Crio grades dentro de mim 
Para não transparecer
Aquilo que realmente sou
Aquele a quem realmente quero



Cavalos marinhos 
Me acompanham em minha viagem
Mantendo vivo aquilo (Que eu sempre tive vontade de morrer)
Mantendo diante de meus olhos a paisagem
E por ser indigno senhor ao teu ver
Sob teus celestes olhos padeço 
Pois eu sei que não mereço 
Uma cadeira ao teu lado direito
Preços terei que pagar.

                       Daniel Sena.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Água com açucar




E o que eu quero na verdade
De verdade, quero todo sangue
Quero todo som
A noite escura, todo dom
Permanecer acordado 
Para assim testemunhar 
O espetáculo diário
Do sol raiar
Quero toda guerra e toda infância 
E no momento mais difícil 
Quero voltar a ser criança
Quero sentir as ondas 
lamberem minhas pernas
Quero fazer da minha vida
Uma história eterna 
Quero teu sorriso ecoando 
Dentro da minha cabeça 
Quero teu corpo 
Girando na dança 
Necessito que não me esqueça.

                                                              Daniel sena.

Teoria de ti





Filosoficamente meu bem 
Foi o bater de tuas asas
Que arrasou meu coração 
Levantou-se um tufão 
E o lado de mim 
Que a ti pertencia
Permanece assim sem fantasias 
E tento agora não sonhar em demasia
Com tua imagem e energia
Agora permaneço assim 
Sem eu 


Cientificamente meu bem 
Você é o fator sine qua non 
Da teoria do caos 
Pois teu simples sopro  
Minha querida 
É dentro de mim um vendaval.

                           Daniel Sena  

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Oração

Imagem: Anton Semenov


Liberta-te lobo feroz 
Mostra para mim de onde vens 
No coração do próprio homem
Morada sei que tens 

Não se esconda lobo maldito
Não esconda de mim tua face 
Pois eu sei que se continuo vivo
É por ter a ti nos combates


 
Levanta-te criatura infernal 
Não deixe de me acompanhar 
Pois se me abandonares velho amigo
Como ei de poder batalhar



Mastigado e cuspido serei 
Pois sem ti não há salvação
Acompanha-me lobo maldito 
Pois só tu és meu irmão



Liberta-me lobo maldito 
Das amarras a me aprisionar 
E mostra-me lobo maldito 
Em quem posso confiar 


E se em batalha cair 

Sei que de ti a proteção vira 
Pois tu lobo maldito 
Estará a me acompanhar 



E nas horas de desespero 
Não terei o que temer 
Pois carrego dentro de mim 
Um Lobo maldito para me socorrer



Inerente ao meu próprio o ser 
Um lobo maldito se espalha 
Pois ódio no sangue a percorrer
É como brasa quente na palha 



Lobo maldito por fim 
Juru-te lealdade 
Como tu jurastes a mim 
Viverei a tua verdade.

                                                Daniel Sena
 


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Apologia ao Caos


E hoje apenas não quero sair de casa
Quero fazer apologia ao caos
Ver filmes pornôs no café da manhã
Acender fogueira de são João no natal
Romper com meus pais no almoço
E não mais voltar pra jantar
Fugir daqui com você
Fazer sexo até o mundo acabar
Quero abrir as grades da prisão
E abrir o zíper da tua calça
Quero a possibilidade de não voltar mais a viver
E poder voar ao infinito
Quero toda dor e todo o sangue
E tudo mais que for bonito
Toda fúria e toda a revolta contida
Fazer morada nas batidas
Sentir o afago da avó
A simplicidade e o rebuscamento
Fugirei do casamento
No lombo de um jumento
Pois não nasci pra tal calvário
Quero fazer Apologia ao caos
Pois ele é o único que faz sentido
Quero tudo que houver de mais terrível
Tudo que o mundo puder me apresentar
Vou pregar contra as igrejas
E contra o falso moralismo cristão
Vou adolescer por completo meus versos
E farei tudo dar certo 
Quando levantar do meu divã
Meus pais querem um psicólogo
Digo que não tenho nada de Pisciano
O psicólogo fala que é adolescência
Digo, são rios, sou oceano
Acreditam todos que vai passar
Prefiro crer que é o fim dos tempos
Não preciso ter nenhum argumento
Só quero ver o mundo acabar
Roda moinho, roda gigante
Roda moinho, roda pião
Farei de hoje em diante
Do caos o meu coração